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Confira abaixo a íntegra da matéria postada pelo Super Interessante. Link: Como funciona o medicamento brasileiro que pode ajudar a recuperar movimentos após lesões na medula | Super


Uma proteína extraída da placenta humana pode abrir um novo caminho no tratamento de lesões na medula espinhal, condição que frequentemente leva à paraplegia (paralisia dos membros inferiores) ou tetrplegia (paralisia de braços e pernas).


Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório farmacêutico Cristália, desenvolveram a polilaminina, um medicamento experimental que apresentou resultados promissores em pacientes e animais. 


A substância tem como base a laminina, proteína presente no corpo desde a fase embrionária. A principal função dessa molécula é formar uma espécie de malha tridimensional que facilita a comunicação entre os neurônios.


Segundo os cientistas, quando reintroduzida no organismo, a polilaminina pode estimular neurônios maduros a criarem novos axônios – fibras que conduzem impulsos elétricos –, abrindo assim rotas alternativas para restabelecer a condução de sinais interrompidos pelo trauma. Em lesões recentes, o efeito tende a ser de proteção imediata contra o dano; em casos crônicos, pode atuar na regeneração de conexões.


“É uma molécula de funções primitivas, presente até em esponjas marinhas. Por ser tão onipresente e necessária desde os estágios mais primitivos da vida, deveria ser mais observada e valorizada”, disse Tatiana Coelho de Sampaio, bióloga e professora da UFRJ que pesquisa a proteína há 25 anos, à Veja SP.


Desde 2018, oito pacientes com lesões medulares completas participaram de um estudo acadêmico conduzido pela UFRJ. Cada um recebeu uma única injeção de polilaminina diretamente na medula, em até 72 horas após o acidente. Seis sobreviveram e apresentaram graus distintos de recuperação motora.


O caso mais emblemático é o de Bruno Drummond de Freitas, que ficou tetraplégico após um acidente de trânsito. Tratado 24 horas depois, começou com movimentos discretos – como mexer o dedão do pé – e, ao longo de meses de fisioterapia intensiva, recuperou quase toda a mobilidade e voltou a andar e correr.


Outra paciente, a atleta de rugby em cadeira de rodas Hawanna Cruz Ribeiro, sofreu uma queda de dez metros em 2017 que a deixou sem movimentos abaixo do pescoço.


Três anos depois, recebeu o medicamento e relatou avanços significativos: recuperação parcial do tronco, melhora da sensibilidade e autonomia para retomar o esporte de alto rendimento.


Também houve relatos de ganhos em pacientes crônicos tratados anos após o trauma. Nesse grupo, os efeitos parecem estar ligados mais à regeneração neuronal do que à proteção imediata. Nos testes com animais, a substância mostrou resposta rápida: ratos voltaram a se mover em 24 horas, enquanto cães com lesões espontâneas voltaram a andar.


A polilaminina começou a ser desenvolvida nos anos 2000, e o registro da patente levou 18 anos. O medicamento é produzido a partir de placentas doadas por mulheres saudáveis acompanhadas durante a gestação.

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Polilaminina UFRJ Laboratorio Cristalia Tatiana Sampaio